segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Continuaram assim até ao crepúsculo. Então os dois homens ergueram-se e declararam que era chegada a altura de se porem a caminho. Fizeram as despedidas, cobriram-se com peles de cabra, sob as quais ocultaram as armas, e esgueiraram-se para a rua, já imersa na semi-escuridão. As três mulheres, embriagadas e completamente exaustas, foram logo deitar-se atrás do pedaço de pano, onde não tardaram a adormecer. Uma vez a sós com Barrabás, a mulher gorda perguntou se não tinha chegado o momento para ambos também se entregarem ao prazer; ele bem podia precisar disso, depois dos maus tratos sofridos na prisão; quanto a ela, sentia o maior desejo em se entregar a um homem que penara tanto tempo numa masmorra e estivera prestes a ser crucificado. Ela conduziu-o ao terraço, onde havia uma cabana de folhas de palmeira para a estação quente. Deitaram-se e, tendo ela afagado-o um pouco, Barrabás rejeitou as mãos dela e pareceu de repente esgotado e esquecido do mundo que o rodeava.
Ela virou-se para o lado, irritada e adormeceu pouco depois. Ele, porém, continuou acordado junto ao corpo abastado da mulher, olhando a cobertura da cabana de folhas. Pensava no homem pregado à cruz do centro e do que se passara na colina do suplício. Em seguida, pôs-se a pensar no caso da misteriosa escuridão. Seria, como os outros tinham dito, pura imaginação? Ou talvez um fenónemo que só aconteceu no Golgotá, já que ninguém o notara em outros lugares? Lá no alto escurecera, não havia a menor dúvida, pois até os soldados tinham sido tomados de pavor. Ou também teria ele imaginado isso? Não passaria de um produto da sua imaginação tudo o que vira? Não, ele não conseguia desvendar o intricado caso, não compreendia o que tinha sido aquilo...
Pensou de novo no crucificado. Deitado, com os olhos abertos, sem conseguir adormecer, sentia o contacto das costas gordas da mulher. Através das folhas podia ver o céu. Devia ser o céu, embora ali não brilhasse uma única estrela. Ali só havia a imensa escuridão...
A escuridão que reinava sobre o Golgotá e sobre o mundo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Hoje a escuridão é de ser lua nova.
:)
mairiam