segunda-feira, 15 de setembro de 2008

De uma porta que se abria como negra caverna...


De uma porta que se abria como negra caverna, partiam vozes ruidosas e, no momento em que passava, uma mulher grande e gorda saiu, toda alvoroçada, e chamou Barrabás. Estava embriagada e, ao vê-lo, agitou os enormes braços em tumultuosa alegria, querendo fazê-lo entrar imediatamente. Ele hesitou um pouco, embaraçado, mas a mulher arrastou-o para dentro. No interior da casa, foi recebido com efusivas exclamações, por dois homens e três mulheres que só pode distinguir depois de algum tempo, quando os seus olhos se acostumaram à penumbra reinante. Apressaram-se a dar-lhe um lugar na mesa, encheram-lhe um copo com vinho e puseram-se a falar, todos ao mesmo tempo. Imaginem, ter ele saído da prisão, ter sido perdoado! Que grande sorte, crucificaram outro no seu lugar! Transbordavam de vinho e de ansia em partilhar a sua sorte, tocavam-o com as mãos, para que a sorte passase para eles.

Barrabás bebeu com eles, mas não falou muito. Durante a maior parte do tempo fitava o vácuo com os seus olhos castanhos-escuros, fundos demais, que pareciam estar-se a esconder. Acharam-no um pouco estranho, mas ele às vezes era assim mesmo.

As mulheres deram-lhe mais vinho. Ele bebeu de novo e deixou que os outros falassem, sem se meter muito na conversa.

Por fim, os seus companheiros começaram a admirar a sua atitude, sem saberem o que havia com ele. Um homem de aspecto desagradável, pousou as mãos nos ombros dizendo que entendia muito bem o seu estado de espirito, após tanto tempo no cárcere, quase morto, porque ser condenado à morte é o mesmo que morrer; ser depois perdoado e solto é como ressuscitar. Ele morrera, pois, e nasceu de novo, o que não era o mesmo que que estar vivo, assim como todos os outros...

6 comentários:

Anónimo disse...

Ele não foi perdoado (ou foi?), só foi posto em liberdade, dadas as circunstâncias, isto é, por obra e graça do Espírito Santo, como se diz hoje em dia. E quase que morreu e como tal, quase que nasceu de novo.
Mas eu só digo isto para V. ver que eu li, porque a história está como um rio: continua para diante.
mairiam

Anónimo disse...

Gosto muito da cor de fundo azul cueca deste blog. A sério.
mairiam

Antonio Carvalho disse...

Tem outra sugestão? Todas as opiniões são bem vindas...
António

Anónimo disse...

Eu disse que era a sério: gosto de azuis, embora por vezes lhes tenha uma raiva, quando acho que são demais ou que escurecem e pesam como chumbo, mas gosto. Deixe ficar.
mairiam

LA disse...

Isto parece quase um capítulo perdido da Relíquia!
Quero ver onde é que a hsitória vai dar!

Antonio Carvalho disse...

Não Luís, não sou Queirosiano, nem o meu Barrabás é o Teodorico. Barrabás não "compreende", e por sua vez os homens não o compreendem; longe de pressentirem a luta que dentro dele se trava, recusam-se a ajudá-lo: o destino dos criminosos é cometer novos crimes. Mas isso para já não interessa para nada...
Nem eu sei onde a história irá dar!!!

António