quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Riram-se das suas palavras...


Riram-se das suas palavras e ela ergueu-se enfurecida, gritando que os poria a todos no olho da rua, menos a Barrabás. Os outros soltaram estrondosas gargalhadas ao ouvir aquela mulher gorda falar-lhes daquela maneira. Acalmaram-se, porém e em seguida ficaram sérios e puseram-se a conversar em voz baixa com Barrabás, contando-lhe que iam voltar à montanha nesse mesmo dia, assim que escurecesse; tinham vindo só para sacrificar um cabrito que haviam trazido; como não foi aceite, tinham-no vendido e, em seu lugar, ofereceram duas pombas imaculadas; com o restante dinheiro, estavam a divertir-se ali naquela casa, daquela mulher gorda. Queriam saber quando é que Barrabás se iria unir-se a eles, lá em cima, informando-o acerca do actual esconderijo deles. Barrabás fez sinal com a cabeça, indicando que compreendia, mas nada respondeu.

Uma das mulheres pôs-se a falar do homem que tinha sido sacrificado em lugar de Barrabás. Ela tinha-o o visto uma vez, só de passagem, e tinham-lhe assegurado que se tratava de um rabi muito versado nas escrituras e que percorria o país fazendo profecias e milagres. Isso não era nada de mal, tantos outros o faziam também; certamente havia outro motivo pelo qual o tinham sacrificado. Era um homem magro, disso ela ainda se lembrava. Outra disse que nunca o tinha visto, mas que tinha ouvido falar nas suas profecias; ele vaticinava que o templo ia desmoronar-se, que Jerusalém seria destruida por um cataclismo, e que, em seguida, as chamas consumiriam o céu e a terra; enfim, coisas absurdas. Não era pois de estranhar que o tivessem crucificado. A terceira acrescentou que ele convivia com os pobres, tendos-lhe prometido que entrariam no reino de Deus; até às prostitutas ele o prometera. Todos riram muito e acharam que não seria nada mau, se fosse verdade.

Barrabás escutava-os e parecia agora menos absorto, embora não lhe aflorasse aos lábios o mais leve sorriso. Teve um sobressalto quando a mulher gorda lhe atirou os braços em volta do pescoço, dizendo que não lhe interessava absolutamente quem tinha sido o outro, que de qualquer maneira estava morto àquela hora. Ele é que fora crucificado, e não Barrabás; tudo o mais não tinha importância.

3 comentários:

Anónimo disse...

Sim.
mairiam

Antonio Carvalho disse...

Se calhar... não! O resto haveria de ter importância... veremos!

António

Anónimo disse...

Eu ontem também disse "veremos". Se tivéssemos dito ao mesmo tempo já não morríamos hoje, ou não tínhamos morrido ontem.
mairiam