terça-feira, 19 de maio de 2009

Voltando-se para a direcção de onde vinha a voz, descobriu que era o galileu de barba vermelha que ali estava, iluminado por uma réstia de luz. Exprimia-se num tom mais calmo, não excitado como os outros, e com o sotaque do seu país, que soava um pouco ingénuo ao povo de Jerusalém. No entanto, despertava mais atenção do que os outros; todos pareciam suspensos aos seus lábios, embora as suas palavras nada tivessem de extraordinário. Começou por falar durante algum tempo do seu querido mestre, depois, sempre referindo-se a ele do mesmo modo, Mestre, recordou as suas predições segundo as quais os que nele acreditavam iam sofrer perseguições por sua causa. Se assim fosse, deveriam suportá-lo o melhor que podiam, e pensar no que o próprio mestre tinha sofrido. Sem dúvida, diferentes do mestre, não eram senão pobres seres humanos, fracos e humildes, mas deviam suportar as mais duras provas sem desertar, sem renegá-lo. Era tudo o que deviam fazer. O galileu parecia estar a dizer aquilo tanto para si mesmo como para os outros. Quando ele terminou, tinha-se a impressão que a assembleia estava um pouco desapontada. Notando, talvez, que desapontara os ouvintes, anunciou que ia recitar uma oração que o mestre lhe ensinou. Quando o fez, todos pareceram mais satisfeitos, alguns, com certeza, estavam sinceramente comovidos. Em todo o recinto reinava uma espécie de êxtase comum. Quando terminou a oração, os que estavam perto dele rodearam-no como se o quisessem "felicitar", e Barrabás viu que o orador estava cercado pelos homens que tinham gritado: "Retira-te maldito!"
Do seu canto, Barrabás, vigilante, observava-os e via tudo com os seus olhos encolhidos no fundo das órbitas.
Súbitamente estremeceu...