sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Toda aquela gente, aglomerada em volta da cruz...

Toda aquela gente, aglomerada em volta da cruz, precisaria mesmo de estar ali? A não ser que eles próprios quisessem, nada obrigava aqueles homens e mulheres a permanecer ali naqueles lugares impuros. Eram provávelmente parentes e amigos íntimos do homem, e, coisa curiosa, pareciam não temer absolutamente o sítio infecto.

Aquela mulher devia ser a sua mãe. Quase não se parecia com ele. Mas quem podia parecer-se com ele? De feições rudes e amargurada, ela tinha o aspecto de uma camponesa. De vez em quando passava as costas da mão na boca e no nariz, que escorria, por estar ela a ponto de chorar. No entanto não chorava. Não se afligia, nem olhava, como faziam os outros, para o filho crucificado. Era sua mãe, sem dúvida. Provávelmente sentia a maior compaixão, mas parecia ao mesmo tempo censurá-lo por estar ali, por ter-se portado de forma a deixar-se crucificar. De um modo ou de outro, a sua conduta deveria tê-lo levado a isso, por mais que ele fosse puro e inocente, e ela certamente não o poderia aprovar. Sendo sua mãe, tinha a certeza absoluta de que ele era inocente; fosse qual fosse a sua culpa, ela o teria, naturalmente, considerado como tal.

Quanto a ele, Barrabás, que contemplava a cena, já não tinha mãe. No pai, nem queria falar. Não tinha já parentes próximos, que soubesse pelo menos. Se o crucificado fosse ele, não haveria tantas lamentações em volta daquele homem. Aquela gente batia no peito e portava-se como quem nunca tivesse enfrentado desgraça semelhante; era um nunca acabar de pranto e suspiros.

Conhecia bem o crucificado da direita. Se este o visse, teria imaginado que viera por sua causa, para vê-lo sofrer. E absolutamente não era assim, o motivo da sua vinda era bem outro. Mas nada tinha contra o facto de o ver na cruz. Se alguém merecia a morte era esse patife, embora por motivo bem diverso do evocado na sentença.

Porquê então olhava para este e não para o do meio, crucificado em seu lugar, e que por sua causa estava ali? Porquê olhava para aquele que o obrigara a vir, que exercia sobre ele tão estranho poder?

3 comentários:

Anónimo disse...

Também não sei porquê.
mairiam

Antonio Carvalho disse...

Será revelado nos próximos posts...
penso eu!

Obrigado pela visita e comentário.

lenor disse...

ok.