sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Olhou-os pouco seguro de si...


Barrabás, porém, olhou-os pouco seguro de si mesmo, depois pareceu aliviado. Aprumou-se um pouco, estendeu a mão para a caneca e bebeu a grandes goles. Não a largou desta vez; esticou o braço para que a enchessem de novo, o que logo se fez. Todos beberam. Percebia-se que começava a achar gosto no vinho. Bebia agora como costumava fazer outrora, quando o convidavam, e notava-se que a bebida o reanimava. Não se tornou comunicativo em excesso, mas pôs-se a contar como vivera na prisão. Tinha sido um inferno. Não era de admirar ainda estar meio tonto. Mas tinha escapado, imaginem. Não era pouco; quando metem a garra em alguém, não o soltam mais! Uma sorte do diabo, safa! Em primeiro lugar, porque estivera para ser crucificado justamente no tempo da Páscoa, quando é costume libertar-se um condenado. E depois, porque fora justamente ele o escolhido! Uma sorte danada! Era também sua opinião, e quando os companheiros lhe davam palmadas nas costas e se inclinavam para ele, soprando-lhe no rosto o hálito quente, ele ria-se e bebia com eles, com um por um. Animou-se, a sua vivacidade foi aumentando cada vez mais, o vinho subia-lhe à cabeça. Abriu a túnica por causa do calor e espichou-se todo, como os outros, pondo-se mais à vontade. Agora, sim, sentia-se bem. Pôs os braços em torno da mulher que lhe estava mais próxima e puxou-a para si. Às gargalhadas, ela pendurou-se-lhe no pescoço. Mas a gorda arrancou-o dela, dizendo que agora o estava a reconhecer, que ele estava como devia estar, que tinha recuperado o seu estado normal, depois da horrível prisão. Nunca mais ele devia imaginar bobagens, nem ver escuridão. Nada disso; não, não, não.... Atraiu-o para si, passando-lhe os dedos carnudos na nuca e brincou com a sua barba vermelha. Todos se alegraram com a mudança, vendo que ele era outra vez o mesmo de sempre, voltando a ter, como antes, os seus momentos de humor. Entregaram-se a uma alegria desenfreada. Beberam, conversaram, concordaram em tudo, acharam muito agradável o momento que estavam a passar juntos, e um animou o outro e a bebida animou todos. Estes homens, desde vários meses não provavam uma gota de vinho nem viam uma única mulher; estavam a tirar a desforra. Dentro em breve voltariam às montanhas, não lhes restava muito tempo. Era preciso festejar a conveniente passagem por Jerusalém e a libertação de Barrabás. Embriagaram-se com o vinho acre e forte e entregavam-se ao prazer com todas as mulheres, menos a gorda, levando-as para trás de uma peça de pano estendida no outro extremo do quarto, de onde saíam vermelhos e esbaforidos, para recomeçar a beber e a vociferar. Faziam tudo de modo completo, como era costume.

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim.
mairiam