domingo, 1 de março de 2009

O reino da morte


[Imagem retirada da internet - galeriaphotomaton.blogspot.com/]
O homem permaneceu calado durante algum tempo, depois perguntou-lhe se acreditava que o rabi era filho de Deus. Após alguma hesitação, Barrabás respondeu que não acreditava, pois era muito dificil mentir perante aqueles olhos vazios que pareciam não se importar absolutamente se alguém mentia ou não. O homem não se alarmou, fez apenas um sinal com a cabeça e disse:- Eu sei. Muitos não acreditam. A sua mãe, que esteve aqui ontem, também não acredita. Mas ele a mim ressuscitou-me dos mortos para que eu desse testemunho dele.
Barrabás disse que, nesse caso, percebia-se que ele acreditasse no mestre, ao qual devia estar eternamente grato pelo grande milagre realizado. O outro respondeu que sim, que lhe agradecia todos os dias o ter-lhe restituído a vida, afastando-o do reino da morte.
- O reino da morte! - exclamou Barrabás, notando que a própria voz tremia. - O reino da morte? Como é esse reino? Tu, que estiveste lá, diz-me, como é ele?
- Como é? - repetiu o outro, com olhar interrogativo.
Era evidente que não compreendia muito bem o que Barrabás queria dizer.
- Sim! Que lugar é esse pelo qual andaste?
- Não estive em parte alguma - respondeu o homem, que não parecia gostar do arrebatamento do seu visitante. - Apenas estive morto... E a morte é o nada.
- Nada?
- Nada. Que queres tu que ela seja?
Barrabás fitou-o.
- Achas que devia contar-te algo a respeito do reino da morte? Pois não posso. O reino da morte é o nada. Ele existe... Mas é o nada.
Barrabás continuava a fitar aquele rosto em ruínas, que lhe infundia pavor, mas do qual não podia tirar os olhos.
- Não... - continuou o homem, os olhos vazios fitando o espaço ao longe. - O reino da morte é o nada. E, para quem esteve lá, tudo o mais também o é. É estranho fazeres-me semelhante pergunta - continuou. - Porque a fazes? Habitualmente não me perguntam tais coisas.
Contou então que os irmãos de Jerusalém frequentemente lhe enviavam gente para ser convertida e que muitos o tinham sido. Deste modo servia o mestre e compensava em parte a sua grande dívida de gratidão, pela vida que lhe foi restituída. Quase todos os dias, o jovem oleiro ou outro confrade lhe trazia alguém, diante do qual atestava a sua ressureição. Mas não falava do reino da morte. Era a primeira vez que alguém o indagava a esse respeito.

3 comentários:

Anónimo disse...

O meu raciocínio também sempre me disse que nesse reino não havia mais que nada. Um reino sem rei, sem súbditos, sem nada.
mairiam

Antonio Carvalho disse...

Será?

Anónimo disse...

Quanto apostas?
:)
mairiam