domingo, 15 de março de 2009

Barrabás, o libertado! Barrabás, o libertado!


No dia seguinte evitou a cidade baixa e o Beco dos Oleiros, mas um homem da olaria encontrou-o por acaso sob as arcadas de Salomão e perguntou-lhe o que tinha achado da noite anterior, se havia reconhecido a verdade daquilo que lhe tinham anunciado. Respondeu que não duvidava de que o homem em cuja casa estivera era um morto ressuscitado, mas, na sua opinião, trazê-lo de volta à vida tinha sido um erro do Mestre. O oleiro, estupefacto, empalideceu ao ouvir as palavras ofensivas ao seu Senhor. Barrabás, porém, voltou-se simplesmente e deixou-o partir.
A história não devia ser conhecida sómente no Beco dos Oleiros mas também no dos Azeiteiros, no dos Curtidores e no dos Tecelões e em muitos outros; quando Barrabás, ao fim de certo tempo, voltou a esses lugares, notou que os crentes com os quais tinha o hábito de conversar já não se comportavam como antes. Falavam pouco, olhando-o de esguelha, com ares desconfiados. Nunca existiu intimidade entre Barrabás e os crentes, mas agora estes mostravam-lhe abertamente a sua hostilidade. Um velhinho enrugado, que ele nem sequer conhecia, abordou-o, perguntando porque é que, afinal de contas, vinha sempre ter com eles, qual era a sua intenção, se é que vinha enviado pelos guardas do templo ou pelos asseclas do sumo sacerdote, ou talvez pelos Saduceus... Sem responder, Barrabás encarou o velho, cuja cabeça calva estava vermelha de cólera. Nunca o vira antes, nem sabia quem era; devia ser tintureiro de profissão, pois à guisa de brincos tinha fios de lã azuis e vermelhos nas orelhas.
Barrabás compreendeu que os tinha magoado e que a disposição para com ele mudou por completo. Por toda a parte encontrava caras fechadas e rancorosas, rijas de expressões de repúdio, e alguns fixavam-no com insistência, para lhe mostrar claramente que o queriam desmascarar, saber quem ele na verdade era. Ele porém, tantava fingir que nada percebia.
Um belo dia a notícia estourou. Espalhou-se como rastilho de pólvora por todos os lados onde moravam os crentes. De um momento para o outro, todos sabiam. Era ELE! O que tinha sido libertado em lugar do Mestre! Do salvador, do Filho de Deus! Era Barrabás! Era Barrabás, o libertado.
Olhares hostis o perseguiam, o ódio brilhava nos olhos furiosos. A agitação não serenou, nem mesmo quando ele desapareceu para nunca mais reaparecer.

Barrabás, o libertado! Barrabás, o libertado!

1 comentário:

Anónimo disse...

Está lindo. Não sei como é que vai ser agora, nisto de um contra todos. Vai haver outro milagre, não vai?
mairiam