domingo, 8 de março de 2009


Começou a escurecer no interior da casa e o homem ergueu-se e acendeu o lampião de óleo suspenso do tecto baixo. Depois trouxe pão e sal, que pôs sobre a mesa, entre ambos; partiu o pão e estendeu um pedaço a Barrabás, embebeu o seu no sal e convidou o visitante a fazer o mesmo. Barrabás teve d aquiescer, embora sentisse que a sua mão tremia. Comeram em silêncio, sob a luz mortiça do almpião a óleo.
Não repugnava a Barrabás partilhar um ágape com este homem, menos escrupuloso e exigente que os irmãos do Beeco dos Oleiros, e que não fazia uma grande diferença entre uma coisa e a outra. Mas quando aquela mão com dedos secos e amarelos lhe estendeu o pedaço de pão, e ele teve de o comer, julgou sentir na boca um gosto a cadáver.
Que significado poderia ter o facto de comer na companhia daquele homem? Que mistério encerrava este estranho repasto?
Quando terminaram, o homem acompanhou-o até à porta, desejando-lhe que partisse em paz. Barrabás murmurou qualquer coisa vaga, afastando-se apressadamente na escuridão da noite. Desceu a montanha e dirigiu-se a passos largos para a cidade, a cabeça cheia de tumultuosos pensamentos.
A mulher gorda surpreendeu-se vivamente ante a violência com que ele a possuía nessa noite; nunca o viu antes com tanto ardor. Não conseguia descortinar o motivo da desusada paixão, mas parecia que ele tinha necessidade de se agarrar a qualquer coisa. E se alguém lhe pudesse dar aquilo pelo que ansiava, era ela. Deitada a seu lado, sonhava que ainda era nova e tinha alguém que a amava perdidamente...

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá, António.
:)*
mairiam