domingo, 5 de outubro de 2008

De que falariam eles...


Apurou o ouvido, mas os homens baixaram de novo a voz e ele não conseguiu entender mais nada.

De que falariam eles?

Pela mesma rua passava gente e era impossível ouvir mais alguma coisa. Quando porém o silêncio voltou, ouviu o suficiente para perceber que era mesmo sobre o que pensava. Era dele que estavam a falar. Do homem que...

Coisa estranha... ele mesmo, pouco antes, também pensava no homem! Passando por acaso em frente ao portão do palácio, pensou no crucificado. Perto do lugar em que o condenado tinha sucumbido ao peso da cruz, recordava-se outra vez de tudo. E agora aquela gente falava desse mesmo homem... Era estranho. O que teriam que ver com o crucificado? E porque baixaram a voz? Só aquele homem robusto de cabelos ruivos falava às vezes de modo que se ouvia dali onde estava; a sua compleição de gigante parecia não se adaptar aos cochichos.

Diriam eles qualquer coisa acerca da... da tal escuridão? De ter escurecido no momento da sua morte?

Barrabás pôs-se a ouvir atentamente, com tal exaltação que o deveriam ter notado, pois calaram-se de repente; ficaram mudos durante muito tempo, sem proferir qualquer palavra olhando-o de esguelha. Depois, murmuraram entre si qualquer coisa que ele não conseguiu entender. Mais tarde, despediram-se do homem ruivo e foram embora. Eram quatro e nenhum deles agradou a Barrabás.

Ele continuou ali sentado, a sós com o tal "rapagão" atlético. Tinha grande desejo em dirigir-lhe a palavra, mas não atinava com o que dizer para começar... O homem movia os lábios e sacudiu várias vezes a grande cabeça. Segundo o hábito da gente simples, manifestava as suas preocupações por gestos. Finalmente, Barrabás perguntou-lhe sem rodeios qual era a causa da sua aflição. Ele ergueu , com ar perturbado, os olhos azuis, muito redondos, e nada respondeu. Mas, após ter encarado o desconhecido durante alguns segundos, com expressão ingénua e crédula, perguntou se Barrabás não era de Jerusalém. Não, não era. Mas parecia que falava com o sotaque das pessoas daquela cidade. Barrabás respondeu que não vinha de muito longe, era das montanhas, vinha do leste. Viu-se claramente que isso inspirou mais confiança ao outro. Não gostava muito do povo de Jerusalém, disse-o directamente; aquela gente não merecia a mínima confiança. Uns patifes, verdadeiros bandidos, isso sim... Barrabás riu-se e concordou plenamente. E ele, de onde vinha?

1 comentário:

Anónimo disse...

hum hum
mairiam