quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Que gente esquisita, aquela!

Não, ele já não era o mesmo depois de tudo aquilo que lhe acontecera, depois de ter estado muito próximo de ser crucificado. Era-lhe aparentemente difícil acostumar-se à ideia de não o ter sido, dizia ela consigo, o que lhe pareceu tão absurdo, que, ali mesmo, deitada com as mãos sobre o enorme ventre, à hora da pior canícula, riu-se às gargalhadas.
Barrabás não deixava de encontrar muitas vezes adeptos do rabi crucificado. Não se podia dizer que os procurasse de propósito, mas eles andavam por toda a parte, nas ruas e praças, e, quando por acaso os encontrava, detinha-se de boa vontade para uma conversa rápida e perguntava acerca do Mestre e da estranha doutrina da qual sabia tão pouco. Amai-vos uns aos outros... Evitava a praça do Templo e as ruas bonitas dos arredores, percorrendo sempre os becos da cidade baixa, onde os artesãos trabalhavam nas suas oficinas e os vendilhões apregoavam mercadorias. Havia muitos crentes entre entre essa gente simples, e Barrabás não os achava tão desagradáveis como os que encontrara na galeria. Conheceu grande parte das suas estranhas concepções, mas não era fácil penetrar na vida íntima deles e compreende-los plenamente, talves porque se exprimiam de uma forma tão ingénua. Acreditavam firmemente que o seu Mestre ressuscitou e não tardaria a vir, à frente das suas legiões celestes, e instalar o seu reino. Todos diziam a mesma coisa, isso deve ter-lhes sido ensinado. Mas nem todos estavam igulamente convencidos de que ele era o filho de Deus. Alguns achavam mesmo pouco provável que ele o pudesse ser, pois tinham-no visto e ouvido, inclusive tinham falado com ele. Um deles tinha-lhe costurado um par de sandálias, tirou-lhe as medidas e tudo o mais. Estes não conseguiam imaginar que ele fosse filho de Deus. Muitos, porém, afirmavam que ele o era e que iria sentar-se nas nuvens, no trono do céu, ao lado de seu pai. Mas antes seria preciso que este mundo imperfeito e cheio de pecados desaparecesse.
Que gente esquisita, aquela!

3 comentários:

Anónimo disse...

Na minha terra somos todos filhos de Deus, há muito tempo, talvez por esse ter sido o primeiro a sê-lo?
mairiam

Antonio Carvalho disse...

Penso mesmo que já o éramos mesmo antes daquele... só que não sabiamos! Depois dele ficamos a saber. Mas demorou e continuará a dúvida por mais, pelo menos, 2000 anos, tanto na minha como na sua terra.

Anónimo disse...

Enquanto houver dúvida, há gente.
:)
mairiam