segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Como podia alguém querer sofrer?


Afirmavam os díscipulos que o Mestre morrera por eles. Podia ser. Mas na realidade foi por ele, Barrabás - ninguém o podia contestar! Estava na verdade mais próximo, mais ligado àquele homem do que eles, do que qualquer outra pessoa; o seu grau de relação com o crucificado era bem outro, mais íntimo e directo. E eles repeliam-no, não queriam nada com ele! Ele era o escolhido, podia-se dizer, escolhido para não sofrer, para escapar aos tormentos da cruz! Ele era o verdadeiro eleito, libertado na vez do filho de Deus, por este o ter desejado e ordenado! E os outros nem sequer suspeitavam disso!
Mas aquela "fraternidade", os seus "ágapes" e o seu "amai-vos uns aos outros" eram-lhe indiferentes. Ele não queria nada com eles, queria apenas ser ele mesmo. Na relação com aquele a quem chamavam o filho de Deus, com o crucificado, ele era sempre o mesmo, era Barrabás como em tudo. Não era escravo subordinado ao Mestre, como eles! Não era dos que suspiravam e imploravam a seus pés.
Como podia alguém querer sofrer? Não sendo necessário, sem ser obrigado pela força... isto era incompreensível, uma ideia assim só nos pode inspirar desgosto. Pensando desta forma, Barrabás revia na sua mente o corpo magro e deplorável do crucificado, os braços que cediam, mal suportando o peso do corpo, e a boca tão ressequida que nem sequer conseguia pedir água. Não, ele não podia simpatizar com alguém que daquela maneira procurava o sofrimento, alguém que se pregava a si mesmo na cruz. Não apreciava absolutamente tal gesto nem a pessoa que o praticara. Mas aquela gente toda adorava o crucificado e os sofrimentos dele, a sua morte vil e lamentável; dir-se-ia que, para eles, quanto mais degradante, mais miserável, melhor. Adoravam a própria morte. Era horrível, repulsivo, enchia-o de desgosto. Sentiu mesmo aversão por eles, pela sua doutrina e por aquele a quem afirmavam crer.
Não gostava, absolutamente, da morte. Abominava-a, não tinha o menor desejo de morrer. Talvez por isso não morrera, por isso foi o escolhido para ser posto em liberdade. Se o crucificado fosse realmente o filho de Deus, seria omnisciente, e já o saberia muito antes que Barrabás não queria sofrer nem morrer. Por isso o crucificado tomou o lugar dele. Barrabás teve apenas de segui-lo até ao Golgotá, para ver como é que eles o crucificavam. Nada mais foi exigido dele, e isso pareceu-lhe muito cruel, a tal ponto se lhe mostrara desagradável a morte e tudo quanto se relaciona com ela.
Sim, ele era verdadeiramente o homem pelo qual o filho de Deus tinha morrido! Foi para ele, e a mais ninguém, que se destinaram as palavras: "Libertai esse e crucificai-o a Ele!".

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu também não entendo com é que se pode gostar de sofrer ou ver o sofrimento dos outros. E esse é um dos motivos por que entendo a morte.
mairiam