segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009


Assim pensava Barrabás ao afastar-se dos discípulos, após ter tentado tornar-se um deles. E deixou a passos largos a olaria do beco dos Oleiros, onde tão claramente lhe haviam demonstrado que não queriam tê-lo no seu meio.
Tomou a resolução de nunca mais os procurar.
Mas quando, no dia seguinte, passou por lá outra vez, perguntaram-lhe quais eram as dúvidas que tinha na fé que eles professavam, mostrando-se arrependidos por o não terem acolhido carinhosamente e por não se terem esforçado por instruir e esclarecer um homem tão ávido de conhecimentos. O que desejava ele perguntar? O que é que lhe parecia incompreensível?
Inicialmente, Barrabás queria dar de ombros e responder que não compreendia absolutamente nada e que tudo aquilo lhe era indiferente. Mas, pensando melhor, mencionou como exemplo a ideia da ressureição, que lhe era difícil conceber. Não acreditava que um morto pudesse retornar à vida.
Os oleiros ergueram os olhos e encararam-no; depois entreolharam, de modo significativo. Após terem trocado entre si algumas palavras em voz baixa, o mais idoso perguntou-lhe se queria ver um homem que o Mestre tinha ressuscitado. Teria de ser à noite, após fecharem as suas oficinas, pois o homem morava um pouco longe de Jerusalém.
Barrabás assustou-se. Por aquela não esperava. Imaginara que iriam debater a questão, expôr os seus pontos de vista, e não entrar em campo com uma prova tão esmagadora e convincente. É verdade que estava persuadido de que tudo aquilo não passava de fantasia, de piedosa fraude; o homem sem dúvida não tinha estado morto. Mas mesmo assim sentiu que o invadia um certo temor. De modo algum queria encontrar o tal homem. Mas não podia confessá-lo. Era preciso simular gratidão pela oportunidade que lhe ofereciam os discípulos de certificar-se do poder do seu Senhor e Mestre.

3 comentários:

lenor disse...

Jesus morreu, retornou à vida e não voltou a morrer. Os outros ressuscitados, não sei.
mairiam

Anónimo disse...

António...
Vamos? Continuar?
mairiam

Antonio Carvalho disse...

Sim, vamos, mas o tempo disponível está cada vez mais indisponível... Tempo... esse poderoso carrasco!