segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Ele veio! Ele veio! Eu vejo-o! Eu vejo-o!

O ortodoxo, impaciente, inlcinou-se, apanhou uma grande pedra pontiaguda e lançou-a ele mesmo, com todas as suas forças de ancião. A pedra atingiu a infeliz, que, cambaleando, ergueu para o alto os braços magros, num gesto desesperado. A multidão aplaudiu, com gritos selvagens, e o ortodoxo contemplou a sua obra com visível satisfação. Barrabás aproximou-se mais um pouco, ergueu ligeiramente o manto e, num movimento que denotava experiência, cravou a faca no velho. O gesto foi tão rápido que ninguém percebeu. Todos estavam completamente ocupados em lanças pedras à vítima. 
Barrabás abriu caminho até à borda do fosso e viu, lá embaixo, a mulher dar alguns passos cambaleantes, com os braços estendidos, gritando:
- Ele veio! Ele veio! Eu vejo-o! Eu vejo-o!
Depois caiu de joelhos, como se estivesse agarrando a fímbria do manto de alguém e soluçou:
- Senhor, como poderia eu dar testemunho de ti? Perdoai-me, perdoai...
Tombou agonizante sobre as pedras ensanguentadas, para não mais se erguer.
Quando tudo se acabou, os que estavam mais perto do fosso viram que um homem jazia morto entre eles, enquanto outro fugia entre os vinhedos e desaparecia nos bosques de oliveiras, em direcção ao Vale do Cédron. Vários soldados da guarda se precipitaram no seu encalço, mas não o encontraram. Dir-se-ia que a terra o tragara.


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